O envenenamento do doleiro e delator Alberto Youssef em meio às eleições para a Presidência da República ou o atentado ao ministro do Supremo, Teori Zavascki. Nenhum desses boatos foi confirmado, mas revelou o poder do conteúdo. E aí vale uma pergunta: de que forma as marcas – famosas ou não – estão trabalhando ou se preparando para enfrentar alguma crise gerada por fatos sem qualquer fundamento?
Estamos vivendo tempos em que falsas notícias são disseminadas a todo o momento. Hackers têm o poder de paralisar instituições e invadir sistemas de informação. Cada vez mais desinformadas, as massas populares têm apenas o Facebook como fonte de informação e acreditam piamente no que é veiculado.
Quais são os interesses dos produtores de boatos e informações inverídicas? Além de angariar seguidores, atrair compartilhamentos e ganhar relevância na sociedade, ganham dinheiro sendo testas de ferro de grupos políticos e/ou econômicos que desejam ver a desgraça do concorrente. Por outro lado, as empresas, quando simplesmente precisam disseminar seus produtos e atributos, parecem alimentar uma visão analógica do mundo e acreditam ainda ter pleno domínio sobre a informação. Mais do que rever velhos paradigmas, precisamos acabar com eles.
Hoje, qualquer cidadão armado com um smartphone tem a capacidade de criar e registrar fatos que acontecem à sua frente. Na cobertura dos atentados durante a Maratona de Boston de 2013, a dita imprensa tradicional perdeu vez frente ao público que acompanhava a prova e registrou uma série de imagens, constituindo um rico material de investigação determinante para a resolução do crime.
Por isso, as empresas devem passar à posição de fomentadores e curadores de conteúdo. Nenhum agente de viagem será capaz de traduzir tão bem o valor de um destino turístico como um usuário do TripAdvisor. Imagine então aquele medicamento ou cosmético que desejamos adquirir na rede de farmácias. Diante disso, por que nós, profissionais de comunicação, julgamos ter poder sobre a informação?
Uma das respostas possíveis é o fato de ainda nos considerarmos vendedores de um produto, de um serviço ou de uma marca. Informação é commodity. Não há mais necessidade de saber os atributos técnicos de um determinado produto de beleza. Quero ler ou ouvir dicas diferenciadas. Quero saber de experiências turísticas em primeira pessoa, não de comunicados sobre a região em terceira. Mesmo os canais de comunicação próprios das empresas já não podem ser parciais e se restringir à função de portfólio.
Entretanto, de que adiantam novas redes, meios, métricas e conexões se atitudes não mudarem? São muitas as interrogações, mas a rota da mudança não tem bifurcações nem admite retorno. Aquele velho remédio já perdeu a validade.